Cadernetas Agroecológicas valorizam o trabalho das mulheres rurais no Semiárido

As Cadernetas Agroecológicas é uma metodologia político-pedagógica inovadora, que está sendo implementada pelo Projeto Viva o Semiárido (PVSA), executado pelo governo do estado por meio da Secretaria da Agricultura Familiar do governo do Estado do Piauí

O projeto de implantação e uso consciente das Cadernetas Agroecológicas é coordenado pelo Semear Internacional, FIDA e Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Programa Semear Internacional e Grupo de Trabalho de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) em parceria com o Centro de Tecnologias Alternativas (CTA), Universidade Federal Rural e todos os seis projetos apoiados pelo FIDA no Brasil. No Piauí, esse trabalho conta com o acompanhamento das equipes de Assistência Técnica Sistemática (ATS) do Emater, da Cooperativa de Produção e Serviços de Técnicos Agrícolas do Piauí e Associados (Cootapi) e da Empresa de Planejamento e Assessoria Técnica Agropecuária (Emplanta), que têm sido fundamentais para que esse trabalho de fato se realize.

As mulheres agricultoras familiares anotam diariamente tudo o que elas consomem, vendem, doam e trocam. Com isso, elas têm conseguido tanto contabilizar o dinheiro arrecadado com a comercialização de seus produtos, a maioria deles oriundos dos próprios quintais produtivos, como entender a importância da produção para consumo próprio e a renda indireta trazem para a economia local. As anotações são subsídio para que elas reflitam entre si e com suas famílias sobre a contribuição fundamental desse trabalho tantas vezes invisível, especialmente a produção dos quintais, o beneficiamento da produção, a comercialização do que é considerado como “miudeza”.

Francisca de Deus, presidente da Associação de São José de Cocos, explica que as beneficiadas com o PVSA na comunidade se dividiram em três grupos, trabalhando com avicultura, piscicultura e beneficiamento de frutas. “Também temos agora o uso e acompanhamento das Cadernetas na nossa comunidade que está ajudando no nosso trabalho. Hoje, tenho no meu quintal o cultivo de hortaliças, plantas medicinais e frutíferas como acerola, umbu, seriguela, caju e descobrimos como cultivar até ata. A gente consegue fazer nossa polpas, sucos e doces deliciosos. Além disso, quando não produzimos, compramos de um amigo ou amiga e é mais uma geraçãozinha de renda pra todas”, descreve. A agricultora destaca que outro benefício do projeto é a assistência técnica realizada na comunidade pela Cootapi, que também faz o acompanhamento das Cadernetas: “É um projeto maravilhoso e que tem nos fortalecido principalmente nesse momento de pandemia”, conclui.

O coordenador do PVSA no Piauí e superintendente da SAF, Francisco das Chagas Ribeiro, pontua que a Caderneta Agroecológica é um instrumento pedagógico, onde as agricultoras anotam a produção do seu quintal e isso dá condições para fazerem análises rápidas sobre a quantidade de produtos, seus gastos e lucros. Ele ressalta que esse trabalho é muito importante porque mostra resultados positivos que muitas vezes não são observados. “A gente acaba não valorizando e é nos quintais onde são produzidos alimentos sem uso de veneno, nem queimadas, onde são colocados adubos que vem dos ciscos das galinhas e animais que habitam o quintal, por isso tem bons resultados. Sem contar que, ao final deste trabalho, apoiado pelas Cadernetas Agroecológicas, pode-se observar que as mulheres descobrem a importância da economia, aprendem a valorizar o que tem ao redor da casa. Este hábito de anotar detalhes do que produz, vai ficar como legado da produção nas áreas do semiárido”, garante.

A coordenadora do projeto das Cadernetas no Piauí, a consultora de gênero, raça/etnia e geração do IICA, Sarah Luiza Moreira, explica que é inserido apenas a contribuição direta do trabalho delas. “A ideia é valorar e visibilizar o aporte econômico das mulheres no campo, no semiárido, mostrando o quanto elas trazem de renda para as famílias e para as comunidades. Com o apoio das ATS, a expectativa é que esse trabalho consiga fortalecer também a organização das mulheres e mostrar possibilidades de melhorar a produção e potencializar a comercialização”, avalia.

Resultados

Segundo a coordenação do projeto, nos seis primeiros meses do ano, o estado teve uma média de 121 agricultoras preenchendo as Cadernetas. Ao todo, foram identificados 346 produtos, sendo 115 de origem vegetal, 47 de origem animal, 150 que tiveram algum tipo de beneficiamento e 34 resultantes de atividades não agrícolas. Aproximadamente, 75% da produção anotada pelas agricultoras é oriunda dos quintais produtivos, o que mostra sua grande contribuição para a economia e renda local. Dos valores registrados em 6 meses, dos 10 grupos ou associações envolvidos, totalizaram R$ 304.940,87, onde o consumo totalizou 67% dos registros, mas seu valor significou 33% do total da produção. A venda contou com 15% das anotações, mas representou 57% do valor total da produção. Nesse período, a média geral dos valores registrados pelas mulheres foi de R$ 418,30.

 

Repórter: Edna Maciel